sábado, 24 de maio de 2014

Laboratórios, Exames, Ludmilla e João Paulo



Primeiramente, podemos começar com um questionamento: O que acontece quando um diagnóstico na Atenção Básica tem necessidade de exames laboratoriais? Bem, claro que isso foi algo premeditado pela organização do SUS. O problema era: Como dispor da infinidade de exames existentes para as mais variadas patologias e distribuí-los em rede nacional com o menor custo possível? Para falarmos sobre isto, temos que saber que os Exames Laboratoriais foram dividos em 4 grupos: A, B, C e D e os Laboratórios em I, II, III ou Misto. Cada tipo de exame, atendia à necessidade de uma Atenção do SUS (Básica, de Média Complexidade e de Alta Complexidade) e cada tipo de laboratório buscaria atender a uma certa demanda populacional. Vamos esclarecer mais esse fato com dois casos comuns que se iniciam nas Unidades Básicas de Saúde:
         
 Ludmilla, 24 anos, chegou para se consultar com o Dr. Assis em uma quarta feira de manhã. Apresentava-se bastante desidratada devido a uma diarréia incessante que durava já três semanas, piorando recentemente. Com a piora da diarréia, apareceram ínchaços no pescoço, febre alta e uma série de feridas e lesões na boca. Dr. Assis questionou Ludmilla a respeito do número de parceiros sexuais e se corriqueiramente usava camisinha nessas empreitadas. Ao receber uma resposta numerosa seguida de uma negativa, Dr. Assis sugeriu que Ludmilla fizesse uma sorotipagem para HIV( ELISA e Western-Blot). A sorotipagem para HIV, é um exame do grupo A, feito em um laboratório de tipo I na própria unidade de Saúde. A sorotipagem é um exame de tipo A porque se refere a atenção básica e ao controle que o médico tem do paciente nessa atenção. Uma estatística feita desses exames, mostra dados importantes a respeito da Saúde Pública. O Laboratório tipo I é um laboratório que trabalha mais com recursos humanos e com baixa tecnologia, faz exames mais simples, atende a uma população de 25.000 habitantes, comumente se encontra na assistência Básica. Nos locais longínquos, onde não há laboratórios, os postos de coletas de exames são obrigatórios, e o material colhido deve ser mandado a um laboratório do Tipo I para preparação e em seguida enviado aos demais laboratórios (II, III), dependendo do grupo do exame realizado. Após a constatação de que Ludmilla era Soropositivo para HIV, Dr. Assis a diagnosticou já em estágio de AIDS e a encaminhou para o Hospital de doenças infecciosas mais próximo. Lá Ludmilla foi tratada e passou a ser acompanhanda por meio da contagem de Linfócitos CD4/CD8 e contagem da carga viral , exames laboratóriais do grupo D, referentes a atenção de Alta complexidade. Tais exames são feitos em Laboratorios do tipo III ou mistos, os laboratórios do tipo III, são aqueles que atendem a exames da atenção de altacomplexidade, abrangem uma rede regional/estadual, favorecendo no mínimo 50.000 habitantes. Já os laboratórios mistos são aqueles que fazem a atividade de mais de um tipo de laboratório. Ludmilla hoje convive com sua carga viral baixa graças ao coquetel anti-AIDS.
                João Paulo, 19 anos, foi à UBS fazer exames rotineiros, e levantou na anamnese que havia aumentado consideravelmente o numero de vezes que necessitava urinar e consequentemente a sede excessiva, mas em sua cabeça João Paulo não sabia qual explicava qual. Além disso, constatou a perda de peso sem motivo aparente. Dr. Assis passou os exames de rotina para João Paulo e pediu para que fizesse o teste de Glicemia na prórpia UBS e voltasse com o resultado. Após a realização do Exame pertencente ao Grupo A em um laboratório tipo I, o médico constatou a quantidade ligeiramente elevada de glicose no sangue de João Paulo e recomendou a ele um teste de Hemoglobina Glicada. Apesar de esse segundo teste ter material colhido e preparado em um Laboratório tipo I, ele foi encaminhado e realizado em um Laboratório tipo II, que atende a médiacomplexidade e abrange uma população de 25.000 a 50.000 habitantes, esses laboratórios são mais automatizados e visam exames que ocorrem com menor frequência, normalmente, visando a confirmação de diagnósticos. O teste de Hemoglobina Glicada é um exame do Grupo B, que representa um segundo nível de apoio diagnóstico e ocorre com menos frequência do que o grupo A. Após a confirmação da Glicose elevada nos últimos meses, Dr. Assis passou para João Paulo um exame de Anticorpos Anti-insulina, afim de descobrir qual tipo de Diabetes ele possuia. O exame, novamente, colhido em um laboratório tipo I, preparado e encaminhando a um Laboratório tipo III, esse possui abrangência regional/estadual e atende a uma população de mais de 50.000 habitantes, eles possuem um maior e mais custoso aparato tecnológico e atendem a atenção de altacomplexidade.  O teste de anticorpos Anti-insulina é um exame do Grupo C, exames que visam uma investigação diagnóstica detalhada ou acompanhamento clínico do paciente. João Paulo foi diagnosticado com diabetes tipo I que hoje encontra-se controlada graças administração de doses de insulina.
                Com essa estruturação, o SUS buscou atender as mais variadas necessidades do brasileiro, mas ficamos com o questionamento: Porque, mesmo com toda a aparelhagem dos laboratórios e o atendimento nos três níveis de complexidade do sistema de saúde, o brasileiro ainda procura os Planos de saúde ou paga do próprio bolso os exames laboratoriais?



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