Um indivíduo
estava a plantar numa manhã em seu terreno, quando sucedeu-lhe uma dor nas
costas, diante da perspectiva de ficar sem o que comer e de levar umas boas
bordoadas da esposa, arrastou-se fazendo caretas, mas suportando-se em pé, e
foi até o curandeiro da aldeia. Este rebateu-lhe: “onde dói?”,” “dói nos
lombos!”. 15 minutos de maceração de folhas e um gole que desceu mais amargo do
que o ensopado de carneiro da primeira filha, e o individuo arrastou-se somente
até chegar em casa, quando melhorou de tal forma que já podia pular como um
homem novo. Naquele dia, a esposa não deu-lhe bordoadas, pelo contrário. No
segundo dia, a dor voltou. No terceiro, ela permaneceu. No quarto, o curandeiro
não se aguentou e atirou-lhe mais perguntas a respeito da sua dor do que a
mulher atirava-lhe seus xingamentos mensais. Assim, nasceu a anamnese.
Obviamente,
a história acima é meramente ilustrativa, e nela contém tão pouca verdade
quanto em um diagnóstico dado por uma consulta sem a realização da Anamnese.
Anamnese, vem do grego, quer dizer ‘trazer a memória a tona’. Ou seja, o médico
vai fazer com que o paciente se lembre de seu histórico e repasse a ele, a fim
de que ele possa estabelecer uma relação de causa e efeito com a patologia que
o acomete. Por muito tempo, o médico perguntava apenas: “Onde dói?” e limitava
sua ação ao tratamento daquela dor. Hoje, com o avanço da ideia de que o exame
clínico é responsável por 70-80% do diagnóstico, o médico já pergunta “Então, o
que se passa?” ou “Me conte o que está acontecendo!”, entendendo que os males
que acometem os pacientes podem ir além de meras dores. Porém, a anamnese nunca
deve andar sozinha, afinal, se ela é a responsável por 80% do diagnósticos, no
melhor dos casos, onde se encontram os outros 20%? Simples, 15% correspondem ao
exame físico, feito pelo médico: aferir pressão, auscultar o coração,
perscussão do corpo, entre outros procedimentos, e 5% correspondem aos exames
laboratoriais e imagiológicos.
Se
correspondem a tão pouca parte do diagnóstico, porque o sistema público paga um
preço relativamente alto, que determinados exames cobram, para obter-se o
diagnóstico? 5% ainda é uma porcentagem relativamente alta quando se trata da
saúde humana. Além disso, esses 5% correspondem apenas a certeza NECESSÁRIA que
o médico quer obter quando ele fecha 95% do diagnóstico, mas tem que descartar
qualquer hipótese mais rara ou confirmar determinados diagnósticos que só podem
ser confirmados com um exame laboratorial, como por exemplo lúpus, doença de
Chagas, leucemia, câncer de colo do útero, doença de Addison ou mesmo a Dengue.
Esses
5% podem corresponder, ainda, ao ponto de partida para o diagnóstico. Como
assim? Imagine um recém-nascido, o médico não pode praticar uma anamnese com
ele, somente com a mãe, e, mesmo obtendo o histórico da mãe, não é possível
saber se o recém-nascido está sentindo algo. Com o exame físico, o médico
apenas pode detectar alterações palpáveis e auscultáveis, assim, é pedido o
teste do pezinho, gratuito pelo SUS e parte essencial no acompanhamento da saúde
do bebê, a partir dele, pode se obter certos diagnósticos que orientarão a
conduta do médico dali em diante.
No
próximo post, esclareceremos como é feito o teste do pezinho e os demais
diagnósticos das doenças citadas no texto,
correlacionando com o Sistema Único de Saúde.