domingo, 27 de julho de 2014

Dr. Frankenstein, Doador, SNT

                “Prezado e odiado Dr. Victor Von Frankenstein,
            Venho inocentar-lhe de seus crimes com meu perdão. O ódio e a amargura já não existem mais em meu coração que ora pertenceu a outro e foi vivo, e jazeu dentre os nove infernos de Dante, agora batendo em meu peito cheio de agonia. Meu pai,  meu criador, aquele a quem tanto olhei em um primeiro vislumbre de vida, com córneas que outrora foram azuis em e movidos por muito mais compaixão, tu que me destes a maior de todas as maldições: a vida, e, em nenhum momento sequer, chibateou-me com o zelo do amor paterno. Tu que me desprezaste desde o início e que deu-me um primeiro olhar não de felicidade pelo sucesso, mas de desespero pela falência da sua ganância de gerar vida da morte e ser deus dentre os homens. Persergui-te por anos até os confins do mundo, a fim de estrangular-te com minhas mãos de outrens e encontrar descanço nas ricas selvas sul-americanas. Hoje, encontro descanço contigo em meus braços, morto, inerte, sem alma, tal qual como meu corpo e, assim, finalmente, encontro semelhaça em alguém.
            Atenciosamente,
            Seu filho e Criatura.”

A carta acima ilustra os sentimentos da “Criatura” do Dr. Victor Von Frankenstein, personagem do romance O Moderno Prometeu de Mary Shelley, no qual um cientista, estudioso das ciências naturais descobre o segredo da criação da vida e cria um ser a partir de inúmeras partes de mortos e o dá a vida por meio de uma descarga elétrica numa noite de tempestade. O sonho de criar vida, por anos inatingível, atormentou filósofos e alquimistas, que ao constatarem seu insucesso o passaram como herança aos cientistas modernos. Hoje, não podemos dar a vida a um ser como a criatura de Frankenstein, mas podemos dar uma nova chance para que as partes de pessoas mortas venham viver em outras, é o que chamamos de Transplante de órgãos. A História do transplante, na verdade, data deste à antiguidade, nela cirurgiões hindus e cirurgiões da antiga Alexandria já trabalhavam fazendo enxertos e pequenos transplantes de pele em ferimentos extensos. No início do século XX, cientistas já trabalhavam com as possibilidades de transplantes em animais, franceses conseguiram transplantar o coração de um cachorro para o outros e fazê-lo permanecer vivo durante uma hora, os russos forma mais além e com seus bizarros experimentos implantaram a cabeça de um cachorro no corpo de outro, todos esses experimentos culminaram para que em 1967 o sul-americano James Hardy transplantasse com sucesso um coração em um homem com 54 anos de idade com arteriosclerose coronária avançada.
Deivido aos seu ao custo, a extrema necessidade de organização e o extenso debate ético envolvido no transplante de órgão em seres humanos, apenas o SUS, um braço do Estado na área da Saúde, pode mediá-lo e realizá-lo. Por meio do SNT (Sistema Nacional de Transplante) todos os doadores são cadastrados e elencados em um ranking extremamente mutável e flexível, já que o primeiro lugar, não necessariamente será o primeiro a receber o órgão, mas sim àquele que tem mais urgência em recebe-lo. Assim, todo aquele que quiser ser doador de orgão deve deixar sua vontade clara para a família, pois essa é detentora dos direitos sobre o cadáver e somente ela poderá decidir sobre o destino dele.
Então, quando o indivíduo encontra-se em estado de morte encefálica, com causa conhecida, o médico deve executar dois exames clínicos e um exame complementar a fim de atestar que não há qualquer atividade elétrica ou metabólica no cérebro do indivíduo. Por exemplo, exames de gasometria, angiografia cerebral, dentre outros. Após isso, são feitos testes de Sorologia para Chagas, Anti-HBc, HbsAg, Anti-HCV, VDRL-Sífilis, Toxoplasmose e Citomegalovírus, procura-se também identificar se o indivíduo era usuário de drogas. Outros testes e critérios de seleção são específicos para cada órgão e estarão disponíveis no link postado ao final do texto.
Após isso, o SNT é informado sobre disponibilidade e procura rastrear o receptor que mais se adequa ao órgão dentro da rede estadual e, posteriormente, dentro da macroregião em que se encontra o doador.
Quanto ao receptor do órgão, trataremos no próximo texto, aprofundando ainda mais sobre os transplantes de órgãos realizados pelo SUS.


Critérios de seleção para os mais diversos órgãos: http://aplicacao.saude.gov.br/saude/transplante/home/Destaques/criterios-selecao