“Prezado
e odiado Dr. Victor Von Frankenstein,
Venho inocentar-lhe de seus crimes com meu perdão. O ódio
e a amargura já não existem mais em meu coração que ora pertenceu a outro e foi
vivo, e jazeu dentre os nove infernos de Dante, agora batendo em meu peito cheio
de agonia. Meu pai, meu criador, aquele
a quem tanto olhei em um primeiro vislumbre de vida, com córneas que outrora foram
azuis em e movidos por muito mais compaixão, tu que me destes a maior de todas
as maldições: a vida, e, em nenhum momento sequer, chibateou-me com o zelo do
amor paterno. Tu que me desprezaste desde o início e que deu-me um primeiro
olhar não de felicidade pelo sucesso, mas de desespero pela falência da sua
ganância de gerar vida da morte e ser deus dentre os homens. Persergui-te por
anos até os confins do mundo, a fim de estrangular-te com minhas mãos de outrens
e encontrar descanço nas ricas selvas sul-americanas. Hoje, encontro descanço
contigo em meus braços, morto, inerte, sem alma, tal qual como meu corpo e,
assim, finalmente, encontro semelhaça em alguém.
Atenciosamente,
Seu filho e Criatura.”
A
carta acima ilustra os sentimentos da “Criatura” do Dr. Victor Von
Frankenstein, personagem do romance O
Moderno Prometeu de Mary Shelley, no qual um cientista, estudioso das
ciências naturais descobre o segredo da criação da vida e cria um ser a partir
de inúmeras partes de mortos e o dá a vida por meio de uma descarga elétrica
numa noite de tempestade. O sonho de criar vida, por anos inatingível,
atormentou filósofos e alquimistas, que ao constatarem seu insucesso o passaram
como herança aos cientistas modernos. Hoje, não podemos dar a vida a um ser
como a criatura de Frankenstein, mas podemos dar uma nova chance para que as
partes de pessoas mortas venham viver em outras, é o que chamamos de
Transplante de órgãos. A História do transplante, na verdade, data deste à
antiguidade, nela cirurgiões hindus e cirurgiões da antiga Alexandria já
trabalhavam fazendo enxertos e pequenos transplantes de pele em ferimentos extensos.
No início do século XX, cientistas já trabalhavam com as possibilidades de
transplantes em animais, franceses conseguiram transplantar o coração de um
cachorro para o outros e fazê-lo permanecer vivo durante uma hora, os russos
forma mais além e com seus bizarros experimentos implantaram a cabeça de um
cachorro no corpo de outro, todos esses experimentos culminaram para que em
1967 o sul-americano James Hardy transplantasse com sucesso um coração em um
homem com 54 anos de idade com arteriosclerose coronária avançada.
Deivido
aos seu ao custo, a extrema necessidade de organização e o extenso debate ético
envolvido no transplante de órgão em seres humanos, apenas o SUS, um braço do
Estado na área da Saúde, pode mediá-lo e realizá-lo. Por meio do SNT (Sistema
Nacional de Transplante) todos os doadores são cadastrados e elencados em um ranking
extremamente mutável e flexível, já que o primeiro lugar, não necessariamente
será o primeiro a receber o órgão, mas sim àquele que tem mais urgência em
recebe-lo. Assim, todo aquele que quiser ser doador de orgão deve deixar sua
vontade clara para a família, pois essa é detentora dos direitos sobre o
cadáver e somente ela poderá decidir sobre o destino dele.
Então,
quando o indivíduo encontra-se em estado de morte encefálica, com causa
conhecida, o médico deve executar dois exames clínicos e um exame complementar
a fim de atestar que não há qualquer atividade elétrica ou metabólica no
cérebro do indivíduo. Por exemplo, exames de gasometria, angiografia cerebral,
dentre outros. Após isso, são feitos testes de Sorologia para Chagas, Anti-HBc, HbsAg, Anti-HCV,
VDRL-Sífilis, Toxoplasmose e Citomegalovírus, procura-se também
identificar se o indivíduo era usuário de drogas. Outros testes e critérios de
seleção são específicos para cada órgão e estarão disponíveis no link postado
ao final do texto.
Após isso, o SNT é informado sobre
disponibilidade e procura rastrear o receptor que mais se adequa ao órgão
dentro da rede estadual e, posteriormente, dentro da macroregião em que se
encontra o doador.
Quanto ao receptor do órgão, trataremos no
próximo texto, aprofundando ainda mais sobre os transplantes de órgãos
realizados pelo SUS.
Critérios
de seleção para os mais diversos órgãos: http://aplicacao.saude.gov.br/saude/transplante/home/Destaques/criterios-selecao
A Central Nacional de Transplante integra as organizações estaduais. Funciona 24 horas por dia no Aeroporto de Brasília e tem como objetivo prover os meios para a transferência de órgãos entre estados e evitar desperdícios de órgãos. Em 2011, o Ministério da Saúde assinou o Termo de Cooperação com 15 empresas aéreas, o que garante o transporte gratuito de órgãos e, eventualmente, de equipes médicas de retirada, facilitando ainda mais a realização das cirurgias. As Centrais Estaduais de Transplantes são o resultado da parceria entre o Ministério da Saúde e as Secretarias Estaduais de Saúde e permite que todos – Estado e instância Federal – se comuniquem. Cabe a elas implantar Centrais de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos.
ResponderExcluirOs transplantes proporcionam a sobrevida sonhada para muita gente que está na fila de espera. É uma nova oportunidade que pode ser dada por muitas pessoas. Infelizmente, mesmo com os esclarecimentos em campanhas nacionais, neste trimestre, observou-se uma queda de 3,0% na taxa de doadores efetivos (12,8 pmp) e de 4,8% na de doadores com órgãos transplantados (11,9 pmp), à custa da diminuição de 3,5% na taxa de efetivação da doação (27,6%). Esse resultado torna extremamente difícil a obtenção da meta de 15 doadores efetivos pmp para este ano. Espero que haja mais investimento no governo para aumentar o número de hospitais aptos a captar os órgãos, assim como torne cada vez mais eficiente todo o sistema de doação, e que hajam mais campanhas de conscientização. Podemos observar esses dados no site: http://www.abto.org.br/abtov03/Upload/file/RBT/2014/rbt2014parc-jan-mar.pdf
ResponderExcluirA Política Nacional de Transplantes de Órgãos e Tecidos foi estabelecida e fundamentada pela Lei 9434/97, e tem como diretrizes a gratuidade da doação, o vigoroso repúdio e combate ao comércio de órgãos, a beneficência em relação aos receptores e não maleficência em relação aos doadores vivos. Estas normativas trazem, também, garantias e direitos aos pacientes que necessitam destes procedimentos e regula toda a rede assistencial. Toda a política de transplante está em sintonia com as Leis nº 8.080/1990 e nº 8.142/1990, que regem o funcionamento do SUS.
ResponderExcluirhttp://aplicacao.saude.gov.br/saude/transplante/home/Destaques/historia-transplante
Mais de 70.000 pessoas no país esperam por um órgão. As listas são estipuladas por ordem cronológica ou em alguns casos, como o do fígado, pela gravidade da doença. Uma das principais mudanças no Regulamento Técnico do Sistema Nacional de Transplantes é a prioridade que os pacientes menores de 18 anos passam a ter. A partir de agora, crianças e adolescentes ficam no topo da fila para receber órgãos de doadores da mesma faixa etária, e ganham o direito de se inscrever na lista para um transplante de rim antes de entrar na fase terminal da doença renal crônica e de ter indicação para diálise.
ResponderExcluirhttp://veja.abril.com.br/perguntas-respostas/transplante-orgaos.shtml
A questão da doação de órgãos começa na confirmação da morte encefálica até a aceitação da família pela doação dos órgãos. É um processo complexo que requer grande habilidade dos profissionais envolvidos, desde os cuidados com o doador e como abordar os familiares com a notícia. Então, a manutenção do potencial doador inclui o desafio da estabilidade hemodinâmica. Disritmias atrial e ventricular podem estar presentes e devem ser tratadas e não constitui contra-indicação a utilização cardíaca por si só. Anormalidade de motilidade de parede ventricular é freqüente, especialmente a do ventrículo direito, assim como algum grau de movimento paradoxal do septo interventricular. Acrescenta-se que cerca de 87% dos portadores de morte encefálica evoluem com disritmia cardíaca maligna em menos de 72 horas. A importância da falência ventricular direita é avaliada no peri-operatório observando-se a pronta recuperação à inspeção pelo cirurgião. A hipovolemia é uma manifestação universal e deve ser tratada, não deve ser subestimada com a apreciação de edema pulmonar. Objetivos gerais na manutenção cardiovascular incluem pressão arterial sistólica acima de 90 mmHg, freqüência cardíaca em torno de 100 bpm e pressão venosa central entre 8 e 10 mmHg. Tais valores devem ser atingidos com reposição volumétrica e aminas, se necessárias. Inicialmente preconiza-se a infusão de solução fisiológica de 500 mL/15 min seguida de reposição das perdas urinárias. Possivelmente tal volume não é tolerado pelo potencial doador de pulmão, no qual restringe-se a 100 mL/h de solução fisiológica. No caso de simpatectomia decorrente da morte encefálica o uso de vasoconstritor está indicado. A vasopressina parece ser o mais efetivo e de menor associação com disritmias cardíacas. Chama-se atenção para ocasionais situações de denervação funcional do coração onde a resposta à atropina está comprometida. Nestas ocasiões os cronotrópricos (dopamina ou isoproterenol) ou mesmo marca-passo temporário deve ser utilizado. Todos os possíveis doadores exigem ventilação mecânica. O objetivo é a manutenção da saturação arterial de oxigênio superior a 90% com pressão parcial arterial superior a 60 mmHg. Procurar manter a fração inspiratória em torno de 40% com pressões inspiratórias baixas. Normalmente utilizam-se respiradores ciclando a pressão como opção protetora ao barotrauma. Procurar não ventilar o potencial doador com altas pressões máximas (PIP), altos volume-corrente (entre 6 e 8 mL/kg) e alto PEEP (< 7 cmH2O). As anormalidades hidroeletrolíticas são comuns. As mais freqüentes são alcalose respiratória, hipocalemia, hipercalemia, hipernatremia, hipofosfatemia e acidose metabólica. Diabetes insipidus é a causa mais comum de hipernatremia.
ResponderExcluirA reposição hídrica deve seguir ao cálculo do déficit de água livre.
ResponderExcluirA alcalose é o resultado do tratamento ventilatório para combate a elevação da PIC. Pode acarretar disfunção cardíaca potencializada pelas alterações do cálcio, fosfato e magnésio. Acidose metabólica não apenas indica hipoperfusão tecidual, mas sinaliza possível disfunção cardíaca associada. Aumento do anion gap, acúmulo de lactato são indicativos de baixa perfusão tecidual. A suplementação com corticóides são controversas. Como já descrito, o estado de morte encefálica envolve uma progressão do processo inflamatório. A utilidade do corticóide nesta situação foi demonstrada por Follete, em 1998, onde se constatou melhora da oxigenação e melhor aproveitamento dos pulmões disponíveis. Preconiza-se assim, a suplementação única com 1 g de metilprednisolona, por via venosa (15 mg/kg)36. A coagulopatia deve ser considerada e tratada em todos os doadores. Plaquetas, plasma fresco ou crioprecipitado, freqüentemente são necessários e devem ser administrados prontamente. E com os familiares deve-se ter uma equipe preparada para abordar esse assunto com a mesma, pois não é fácil saber, entender e aceitar o fato da morte e, em seguida, a doação dos órgãos, pois, muitas vezes, o familiar acredita que o seu ente querido não está morto, pois ainda respira e o coração bate.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-507X2007000100010
Com o objetivo de aumentar a captação de órgãos e apoiar as atividades da CNCDO, foi estabelecida a obrigatoriedade da existência de Comissões Intra-Hospitalares de Transplantes nos hospitais com UTI do tipo II ou III, hospitais de referência para urgência e emergência e hospitais transplantadores.
ResponderExcluirEssas comissões desenvolvem, em seus hospitais, o processo de identificação de potenciais doadores em morte encefálica ou coração parado, a abordagem familiar para autorização, além da triagem clínica e sorológica. Também articulam com a CNCDO estadual e nacional a formalização da documentação necessária e o processo de retirada e transporte de órgãos e equipes.